quinta-feira, 18 de julho de 2013

Viés da tinta

Resolvi fazer alguns testes com o magenta, cor com a qual até agora não estava acostumado. Para enriquecer a experiência, usei o magenta de dois fabricantes diferentes, ou seja, da Corfix e da Pebéo.
Logo no primeiro teste, quando tentava conseguir um cinza a partir da mistura do magenta com verde ftalo e branco, os resultados foram bem diferentes..
O cinza resultante, usando o magenta da Corfix, era mais frio que a mistura com o da Pebéo. Aliás, desde que tinha visto os magentas in natura, já tinha observado que eram diferentes.
Resolvi ir mais a frente com os testes, desta vez centrado na comparação entre os dois exemplares de magenta.
Will Kemp, pintor e professor inglês, sugere que você misture a tinta com branco para conhecer o seu viés, ou seja para onde a tinta aponta, se para o lado das cores mais quentes, ou o inverso.
Misturei branco com os dois magentas.

A tinta em A1 é o magenta da Corfix, e em B1, temos o magenta da Pebéo.
Quando "abrimos" a cor com branco, criando os dois rosas de baixo, vemos mais claramente a diferença. O rosa criado com o magenta da Corfix (A2) é mais frio que o rosa da Pebéo.
O que mostra afinal que, enquanto o magenta da Pebéo é puxado para um vermelho quinacridone, o outro puxa claramente para o alizarim crimson, ou seja, tende ao azul.
É uma pena que quem compra tinta nacional tem que aturar a instabilidade na cor comercializada. No caso da Pebéo, pelo menos, o site informa que a tinta Magenta Primário é constituida através dos pigmentos PR19 e PR146. Como andei cheretando no pai dos burros pintores que é o Manual do Artista (Ralph Mayer) e lá não existe o pigmento PR19, suspeito que eles estejam falando mesmo é do PV19, pigmento violeta, que junto com o PR146  (pigmento vermelho)  traduzem a cor.
Esta dificuldade com a tinta nacional continua com outras cores, porque se você mudar de fabricante, o viés da cor pode mudar também. Veja o caso abaixo:
Aqui a gente está falando do azul ftalo, ou azul ftalocianina, para falar o seu nome mais corretamente. O produto à esquerda é da Corfix (C1), enquanto que o da direita (D1), é da Acrilex.
De início, as tintas parecem extremamente parecidas, de um azul profundo, que na foto saí quase negro. Quando se mistura com branco, no entanto, nota-se claramente que há uma diferença grande entre os fabricantes. O ftalo da Corfix tem um viés para o vermelho, tornando-o uma cor mais perto do ultramarinho. O azul ftalo da Acrilex tem um comportamento mais compatível, com um viés para o verde.
Mas quem é que garante que o próximo tubo de cada uma delas vai ser igual?
Provavelmente, se conseguirem um pigmento indiano baratinho, você acha que não vão mudar a mistura? Vai esperando...
Num Brasil ideal, o Ministério da Cultura em conjunto com o Instituto de Pesos e Medidas já teria obrigado os fabricantes de tinta artística a indicar os pigmentos que utilizam. Mas isto só num Brasil ideal, né?
p.s. Vou ficar com o magenta da Pebéo. Depois posto o resultado dos testes.


Um comentário:

  1. Sensacional essa explicação!
    Eu sempre dou preferencia pelas tintas importadas justamente por ter mais segurança se que estou comprando o pigmento correto... Prefiro!!!

    ResponderExcluir